sábado, 20 de maio de 2017

Sobre os últimos acontecimentos

O abalo político causado pela revelação do teor das delações dos executivos da JBS, na última quarta-feira à noite, ainda está longe de terminar. De um lado, um sentimento generalizado de que o governo acabou. De outro, um presidente (sic) que insiste em permanecer no cargo. Longe de pretender tecer maiores análises acerca de algo que, para muitos, eu incluso, segue ainda com obscuridades, alguns pontos merecem ser levantados para reflexão:

1-) Tal como ocorreu mês passado, quando da divulgação da delação da Odebrecht, muita gente, aí inclusos jornalistas experientes, se demonstraram “surpresos” com o que se descobriu. Evidentemente, os números da propina assustam. Igualmente, a naturalidade com que são relatadas as atividades criminosas. Mas, o que não deveria causar espanto, era o fato de que há uma confusão entre público e privado intrínseca a uma sociedade de tipo capitalista e que, no Brasil em particular, se agrava pela própria história de formação de nossas elites econômicas. A permanecer a maior fonte geradora de corrupção no país – o financiamento privado de campanhas eleitorais – o que teremos, no próximo período, é apenas a troca dos atores corruptores.

2-) É igualmente inacreditável que alguém se espante com o banditismo de Aécio Neves. Tanto quanto o fato de ele ainda continuar solto.

3-) Sempre se soube que Gilmar Mendes era um militante do PSDB travestido de juiz do STF. Mas, o que se revelou nos áudios divulgados nos últimos dias é ainda mais grave: se trata de um verdadeiro líder de bancada, coordenador do partido. É absolutamente chocante que não haja, a começar pelos meios jurídicos, um movimento pedindo o impeachment imediato de Mendes do Supremo.

4-) Toda essa movimentação de dinheiro fraudulento, para lá e para cá – da Odebrecht, da JBS, e de outras empresas que continuam interferindo na vida pública, sem que ainda tenham sido descobertas, e assim permanecerão – não despertou a atenção de nenhum órgão fiscalizador das instituições financeiras do país? Se um cidadão comum gasta 100 reais a mais do que o normal, seu banco fica imediatamente alerta. Mas, nesse caso, nada? Nenhuma denúncia, pedido de investigação, tudo normal? Por que será, hein?

5-) Mudando o lado do espectro político: mais uma acusação de que Lula e Dilma teriam contas no exterior – contas abertas pelo próprio delator, movimentada por ele, mas que seriam dos ex-presidentes. Qual a dificuldade em rastrear as contas, ou pegá-los em flagrante, como foi feito tão facilmente com Temer e Aécio? Ou seja, produzir provas efetivas, para além de retórica e obliquidades?

6-) Enfim, cada vez mais, fica claro que nenhuma dessas investigações visa prioritariamente o bem público. Trata-se de uma guerra de interesses, que talvez tenha ido mais longe do que se esperava. Nesse sentido, está se desenhando uma guerra entre Globo x Folha que, se confirmada, esconde muito mais sujeira do que o que se revelou até aqui. A questão é saber: quais são as motivações, as frações de classe, que se escondem por trás dessa briga? A questão se impõe, inclusive porque, independentemente do sucessor de Temer (se pela via indireta, mais provável, e que ambos os grupos defendem), seu maior interesse – a saber, a condução da política econômica e a realização das reformas – será conservado. Por que, então, essa cizânia no interior da burguesia?

7-) Aliás, para encerrar: não é estranho que Henrique Meirelles, ex-CEO da JBS, tenha dito que permaneceria no cargo mesmo se Temer renunciasse? Como ele pode garantir, de antemão, sua presença em um governo que ainda nem existe?

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