quarta-feira, 18 de maio de 2016

Muito pior do que a encomenda

Menos de uma semana, e o governo golpista de Michel Temer já mostrou a que veio. A escolha de um ministério exclusivamente masculino, no qual não há lugar para pastas como a Cultura ou os Direitos Humanos, e, de quebra, com sete (!!!) investigados na Lava Jato foi apenas o tenebroso cartão de visitas. Da última sexta-feira para cá, uma série de declarações do primeiro escalão do novo governo, somadas às suas primeiras ações, estão (ou deveriam estar) aterrorizando todos aqueles que minimamente conscientes e preocupados com o futuro do país.

Os temas até aqui elencados foram variados e extremamente sensíveis: pauta extensa de privatizações; Reforma da Previdência com elevada idade mínima para se aposentar; diminuição do SUS; apoio ao pagamento de mensalidade em Pós-Graduação das universidades públicas; revisão de programas sociais (“Minha Casa, Minha Vida” e “Bolsa Família”); política repressiva em relação aos movimentos sociais; postura agressiva em relação aos países do “Eixo Sul” e de submissão aos EUA e à EU; dentre outros. A síntese da nova política pode ser encontrada nas afirmações dos novos Ministros da Fazenda e da Justiça, a saber: “direito adquirido é um conceito relativo”, e “nenhum direito é absoluto”, respectivamente.

Com efeito, o pano de fundo de ambas as declarações demarca o fio condutor da política de Temer: opor direitos sociais constitucionalmente assegurados à (suposta) necessidade de um severo ajuste fiscal para reequilibrar o orçamento e “acalmar os mercados”. É isso que nos aguarda. Uma política de desmonte da Constituição que, admito, está sendo exposta em ritmo mais rápido que imaginava. A cada manhã, a cada acesso à internet ou a cada edição dos telejornais, uma nova desagradável surpresa. “Ordem e progresso” é, pelo seu anacronismo e reacionarismo, o lema perfeito para este governo.

Contudo, ainda não parece possível afirmar que Temer terá condições de implementar seu plano até o fim. Não apenas pelo tempo escasso (ainda que fique até 2018), ou por dissensos em sua base, mas, sobretudo porque, não obstante a tentativa de desmoralização da esquerda que culminou no afastamento provisório da presidenta Dilma, a resistência ao golpe permanece – e pode se fortalecer. E, mais importante, não apenas por parte do núcleo de sustentação ao antigo governo. Alguns apoiadores do golpe, por exemplo, já começaram a manifestar preocupações públicas com os primeiros gestos do governo Temerário. E, claro, há também a possibilidade de uma parte mais expressiva da população que, mesmo crítica ao PT e a Dilma, é dependente do bom funcionamento do Estado, se insurgir quando se perceber vítima da manipulação grosseira à qual foi submetida. A ver. E a persistir na luta.

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