segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Breves considerações sobre o 1º turno e os desafios do 2º

Com a cabeça mais fresca, depois de um dia cansativo, é possível fazer algumas considerações e balanços sobre o primeiro turno das eleições.

Sobre a disputa presidencial, evidentemente, houve uma surpresa no resultado. A votação bem acima das expectativas de Aécio, e a votação um pouco abaixo do esperado de Dilma (Marina manteve-se no mesmo patamar de 2010), farão com que o segundo turno seja uma verdadeira batalha. São Paulo foi, sem dúvidas, a mola propulsora da arrancada tucana, e é neste Estado – que mais uma vez expressou seu conservadorismo em todos os níveis eleitorais – que pode estar a chave da vitória no dia 26/10. Dilma e o PT devem ter atenção redobrada por aqui. Não para vencer, mas para minimizar a diferença de quatro milhões de votos que o tucano impôs sobre a petista.

Além disso, naturalmente, é preciso disputar os votos de Marina. Esta, aliás, é a grande questão, do ponto de vista, eleitoral, deste segundo turno: para onde migrarão os votos depositados ontem no PSB? É preciso lembrar que o eleitorado marineiro era composto essencialmente de duas fatias contraditórias. A primeira, de jovens, em especial de grandes centros, que enxergavam nela a vocalização das manifestações de junho do ano passado. A segunda, um eleitor conservador, em sua maioria evangélico, que encarava Marina como a candidata mais apta a “tirar o PT do poder”. Difícil dizer qual era majoritária (se é que havia), mas tendo a apostar nesta última. E, se for assim, há de se levar em conta que parte dele migrou para Aécio já no primeiro turno, especialmente em SP. Sendo assim, a margem de transferência pró-tucano se estreita, e deve haver uma disputa equilibrada por estes votos. Contudo, convém ainda aguardar as movimentações desta semana. Inclusive, um eventual apoio público de Marina ao PSDB, já sinalizado na noite de ontem, para considerações mais precisas.

De qualquer forma, o PT deve primeiramente concentrar suas forças, a meu ver, para atrair essa parcela do eleitorado de Marina de corte mais progressista. Para isso, é preciso fazer novamente deste segundo turno uma disputa ideológica polarizada. Não há espaço para erros e tergiversações. É o PT, o campo popular-democrático e seu futuro, contra o bloco conservador do anti-petismo que se enfrentarão até o dia 26. Até porque, é sempre necessário lembrar: Aécio, turbinado pelo seu desempenho e a virada improvável no primeiro turno sobre Marina – o que já o deixaria em uma situação positiva para o segundo turno – terá o apoio irrestrito da grande mídia, o que é sempre de grande valia. Vide o que ocorreu na disputa para o governo de SP, em que Alckmin, blindado pelos grandes meios de comunicação, conseguiu a reeleição em primeiro turno, mesmo com o estado em frangalhos.

Em resumo, a disputa será acirrada. Mais do que o previsto, talvez. A nova-velha composição do Congresso também indica um fortalecimento de candidaturas de centro-direita e de direita que é preocupante. Via de regra, é fato, o Congresso Nacional tem perfil conservador, sobretudo por conta da influência do poder econômico nas eleições. Em 2014, porém, houve um aprofundamento deste perfil: não apenas o centro e a centro-direita ampliaram sua representação, mas candidatos que podem facilmente ser identificados à direita mais nefasta (ou extrema-direita, se preferirem), como Bolsonaro (RJ), Heinze (RS), Feliciano (SP), tiveram votações absolutamente expressivas. Por outro lado, é notável que a bancada do PT, mesmo com perda considerável, ainda seja a maior da Câmara – o que mostra o enraizamento do projeto petista em grandes parcelas da população, apesar de tudo. 

Enfim, dá para dizer o seguinte: se vai ser intensa, a batalha que começamos hoje também não será mais árdua do que outras que enfrentamos. Nesse sentido, nunca é demais lembrar: uma vitória em primeiro turno de Dilma era mesmo muitíssimo difícil de ocorrer. E, acima de tudo, convém não esquecer que foi Dilma e o PT quem venceram o primeiro turno, que venceram a sétima disputa presidencial das últimas sete disputadas. À oposição, portanto, devagar com o andor (porque seu santo é literalmente de barro). Aos petistas, é hora de arregaçar as mangas, defender nosso projeto, e disputar com energia e de cabeça erguida os rumos de nosso país.




Nenhum comentário:

Postar um comentário