segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A campanha eleitoral na TV e o fator Marina

Nesta terça-feira tem início a campanha eleitoral no rádio e na televisão. Com ela, logo virão, também, os primeiros debates. É o momento em que grande parte da população volta seus olhos para o pleito, busca conhecer os candidatos e decide seu volto. Se isso, por si só, já torna este o grande momento da corrida eleitoral, neste ano, a campanha em nível federal, ao menos no início, terá um componente diferente e inesperado. Afinal, a trágica morte do candidato pelo PSB, Eduardo Campos, na última quarta-feira, certamente mudará o cenário da disputa presidencial - como já indicado na pesquisa Datafolha publicada nesta segunda (veja aqui).

Ainda que essa pesquisa esteja forte e propositalmente contaminada pelo impacto do acidente de Campos,  e que Marina sofra uma queda nas intenções de voto nas próximas semanas, entendo que ela ao menos reflete certa tendência: uma disputa ferrenha pela passagem ao segundo turno entre Aécio Neves e Marina Silva. Este quadro, que me parece estava quase que descartado com a presença de Campos, a meu ver, se dá por dois fatores. Em primeiro lugar, porque sua sucessora na cabeça de chapa, Marina Silva, é uma candidata mais forte eleitoralmente. Isso não só porque ela tem o recall dos votos recebidos em 2010, que a deixaram em terceiro lugar naquela eleição para presidente, mas também por sua messiânica auto-proclamação de "encarnação do espírito das ruas” que surgiu em junho de 2013, ideia que muitos compraram (Campos, por exemplo, não conseguiu, em nenhum momento, se apresentar como interlocutor dessa parcela da sociedade). Não à toa, até meados do primeiro semestre, quando seu nome ainda era testado nas pesquisas, Marina aparecia com uma margem de votos bastante superior àquela conseguida, até a última semana, por Eduardo Campos, fato confirmado na referida pesquisa desta segunda-feira. Inegavelmente, muitos desses eleitores de Marina eram/são aqueles que se identificam com a abstração política que as manifestações do ano passado acabaram representando (o “contra tudo e contra todos”, que nada mais é do que a negação da própria política), o que sem dúvida alavanca sua candidatura. Basta ver a diminuição no patamar de votos brancos e nulos entre as pesquisas anteriores e esta para notar. Em segundo lugar, como ficou claro desde o anúncio do falecimento de Campos, e se reafirmou em seu velório, a tragédia com o ex-governador de Pernambuco deverá ser explorada para fins políticos pela coligação que ele encampava, e que Marina dará continuidade, o que também deverá gerar, ao menos num primeiro momento, algum dividendo eleitoral.

Na verdade, já antes do acidente fatal de Campos, eu entendia ser muito difícil que Dilma pudesse ser vitoriosa ainda no primeiro turno, como as pesquisas têm apontado. Isso porque imaginava que, na reta final da campanha, caso as candidaturas de oposição realmente não decolassem, alguma denúncia furada haveria de aparecer para desgastar a imagem da candidata petista e lhe tirar os votos para uma vitória na primeira rodada. Com o fator Marina, ainda mais do jeito como surgiu, a perspectiva de segundo turno torna-se quase uma certeza. Mas, embora seja eleitor de Dilma, não creio que essa possibilidade seja intrinsecamente ruim. Entendo que Dilma possui capital político, realizações e um programa político concreto para vencer qualquer candidato. Não à toa, mesmo com o bombardeamento constante em cima de seu governo, as pesquisas têm lhe dão ampla vantagem sobre os adversários. Caso vá ao segundo turno contra Aécio, teremos uma reedição do embate das últimas eleições. Neste caso, a disparidade entre o projeto petista e o tucano dá todas as vantagens para a atual presidenta. Caso sua adversária seja Marina – cujo programa, para mim, ainda é uma incógnita –, apenas espero (talvez ingenuamente) que haja uma disputa de ideias e propostas progressistas, à altura da história e das tradições de PT e PSB (ou seja, que possamos ter um segundo turno mais à esquerda, sem medo do retrocesso motivado pelo fantasma do tucanato) e não uma disputa entre a política e a não-política. Isso, sim, seria terrível para o país.

No fundo, muito dos rumos dessas eleições vai depender da forma como Marina conduzirá sua campanha. Se se enveredará pela via messiânica da negação da “política tradicional” (que, insisto, da forma como está posta, é a negação da própria política) ou se formatará um programa sólido – e qual será o viés do mesmo. Mas, ainda é precipitado para avançar em análises mais profundas. Nestes primeiros dias, naturalmente, o impacto da morte de Campos ainda deixará o cenário nebuloso. Até o final do mês, no entanto, creio que já haverá condições de apontar um caminho mais seguro sobre o desenrolar dessa disputa.

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