quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Copa, a final e a cartinha da dona Lúcia

A verdade é que organizamos uma Copa extraordinária! Inesquecível, elogiada por todos, a Copa do Mundo provou, para quem quisesse ver, a nossa capacidade. Vencemos o pessimismo, o complexo de vira-latas, e mostramos ao mundo que nosso país e nosso povo são fantásticos. Dentro de campo, para completar, jogos emocionantes e de alto nível. Mais ainda: chegaram à final duas seleções gigantes e merecedoras, que vão coroar brilhantemente este torneio fantástico, independente da vencedora (creio que será a Alemanha, embora torça pelo tri da Argentina).

Mas, como nem tudo é perfeito, há dever reconhecer que nossa seleção, em nenhum momento, mostrou um futebol à altura da competição que tão bem organizamos. Reflexo, sobretudo, da decadência técnica, tática, administrativa, estrutural, que há tempos castiga nosso jogo e nossa paixão. Dói, porém, constatar que, para a CBF, para Felipão e Parreira, tudo parece estar bem. A humilhação do 8 de julho de 2014, na visão dessa gente, foi um acaso, um acidente de percurso. Para eles, somos e sempre seremos os melhores pelo simples fato de que um dia o fomos. Como se a superioridade do futebol brasileiro fosse uma categoria ontológica. Esquecem que o tempo passa e as coisas mudam. Que os outros evoluem e se aprimoram enquanto seguimos sentados em nossas conquistas e em nossa (cada vez mais injustificável) soberba. A patética coletiva dada pela comissão técnica nesta quarta-feira - que apenas se comportou como submissa porta-voz de nossa cartolagem - mostra que são incapazes de aprender algo. 

Nada surpreendente, porém, para quem acompanha o futebol doméstico e conhece o espírito conservador e reacionário das pessoas que o comandam, dentro e fora das quatro linhas. Essa gente ainda vive no pretérito - e quer que nosso futebol fique por lá. Embora ultrapassados pela realidade, ainda alimentam a ilusão de que os 7 gols da Alemanha (na verdade, tudo o que eles representam e escancaram) podem ser sepultados num passe de mágica, pela "mística da amarelinha", ou pela cartinha da dona Lúcia. É mesmo a cara deles.

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