domingo, 20 de abril de 2014

A doença do anti-petismo

A declaração do técnico do Vasco, Adílson Baptista, após o empate de sua equipe diante do América/MG, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro da série B, sugerindo que o mau resultado de sua equipe era culpa da situação político-econômica do Brasil, e arrematando declarando-se “anti-PT” (leia aqui), me chamou muito a atenção. Não pela posição de Adílson, que tem o direito de ser contra ou a favor do que bem entender. Mas porque a insólita menção à política nacional, em especial a oposição a um partido, numa entrevista após uma partida de futebol (em que o treinador tentava justificar o mau desempenho de sua equipe), não me aprece um caso isolado ou excêntrico de confusão ou deslocamento de assuntos. Trata-se, a meu ver, de mais uma sinalização de uma verdadeira doença (e não encontro outro termo para definir a situação) que tem tomado conta de parte do país: o anti-petismo.

Antes de tudo, porém, é preciso diferenciar as coisas: como disse a respeito de Adílson, todo mundo pode ser contra ou a favor do que quiser. Mesmo com todas as suas imperfeições, vivemos, afinal de contas, sob a égide de um regime democrático, em que qualquer cidadão deve ter o direito de manifestar publicamente suas posições e opiniões e defendê-las isonomicamente. Mas, o que tenho notado, é um processo de transformação da posição contrária ao governo Dilma e ao PT, num fanatismo doentil, que beira a insanidade. Sem maior preocupação com uma data exata, creio que isso tenha ganhado força a partir do julgamento do “Mensalão”. Nos últimos tempos, aquela oposição parece avançar para além da disputa política strictu sensu. O que a justiça tem feito com José Dirceu é exemplar; mas não é único. E, sinceramente, não sei até que ponto isso pode chegar. Mas, confesso que tenho me assustado. Não creio que seja brincadeira. Para mim, essa posição doentia está saindo do controle. Nunca havia visto um fuzilamento tão grande em relação a um grupo quanto tenho percebido – nas ruas, nas salas de aula, na TV, na internet e, agora, até em coletivas de técnicos de futebol! – em relação ao PT e ao atual governo. Não se trata mais daquela oposição política que determinados setores sempre nutriram contra o PT. A  oposição de classe – e é disso que se trata – tornou-se algo completamente insano, principalmente capitalizada pelo poder da internet e das redes sociais: profusão inesgotável de mentiras e calúnias infundadas, responsabilização injustificada por tudo o que acontece de ruim no país, julgamentos morais negativos a priori, enfim, uma série de situações em que o PT tornou-se uma espécie de demônio que deve ser exorcizado da vida pública. Parece não haver mais limites à externalização do ódio ao partido, seus membros, os setores que ele representa, e o governo. Tampouco ao desejo de que o PT seja, literalmente, eliminado do mapa.

E novamente, para não deixar dúvidas: não digo isso por ser um sentimento que se ergue contra meu partido. Escrevo essas linhas porque prevejo se avizinhar, a partir da combinação Copa do Mundo e eleições presidenciais, um verdadeiro massacre ao PT. E este massacre pode, sim, representar um duro golpe à nossa democracia, na medida em que visa extinguir – e este é o ponto central de minha preocupação – um representante político legítimo de vastos setores populares. Ou seja, um perigosíssimo precedente anti-democrático poderia se abrir.

Como se vê, não estou entre aqueles que enxerga nas pesquisas eleitorais, que por ora apontam uma vitória até que relativamente tranquila de Dilma, uma certeza em relação ao futuro do governo e de seu principal partido de sustentação. Pelo contrário: temo que, justamente por conta dessa tendência (amparada pelo notável trabalho que os governos petistas vem realizando junto aos setores mais carentes da população, sempre é bom lembrar), o massacre ao PT e à presidenta se intensifique até tornar-se insustentável. Seja insustentável a ponto de significar uma reviravolta no cenário eleitoral presente, e decretar à fórceps o fim do governo petista. Seja no que diz respeito à “governabilidade” num próximo mandato. Pois o anti-petismo tornou-se, de fato, uma doença crescentemente incutida em alguns segmentos da sociedade brasileira. Caso ela se alastre, como numa metástase incontida – que pode afetar a percepção, inclusive, daquela parcela que hoje apoia o governo (ou mesmo aquela que, sendo contrária, ainda mantém um mínimo de civilidade e espírito democrático) – receio, honestamente, que os desdobramentos possam ser piores do que se pode imaginar.

Pode ser (tomara!) um exagero de minha parte. Afinal, escrevo este texto tendo como mote o depoimento desconexo de um treinador de futebol. Mas, na verdade, essa foi apenas a “gota d’água” do que tenho sentido. Por isso, até me provem o contrário, me reservo o direito de ver em casos como este (que, repito, parecem se multiplicar assustadoramente), um sinal que essa doença pode se agravar. Por isso, acho que o PT e os setores populares que ele representa deveriam reagir. Erguer a voz. Partir para a disputa política, disputa de consciências, como corretamente solicitou, dias atrás, o ex-presidente Lula. Não apenas com o intuito de dar prosseguimento ao nosso projeto. Mas, fundamentalmente, com o intuito de que nossa voz não seja calada na marra. Afinal, como diz um ditado, com doença não se brinca.


4 comentários:

  1. so pode mesmo ser um petista!!!doenca eh cegar aos planos obcuros do pt para o brasil e fazer vista grossa a esse massacre de desinformacao pretendida pela hidra e suas 7 cabecas...

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    1. Olha, acho que seu comentário apenas ratifica a ideia do post. Mas, obrigado por comentar.

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  2. a camila pavaneli escreveu um texto sobre o anti-petismo. outro enfoque, mas tão bom qto o seu.

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