segunda-feira, 15 de abril de 2013

Notas de uma viagem: Cuba (segunda parte)


Já sabíamos que o avião que nos levaria para Cayo Largo seria um daqueles modelos antigos, fabricados na ex-URSS. Mas, quando você o vê, não tem como não sentir calafrios. Contudo, não há motivo para pânico: o avião atende bem ao necessário para uma viagem curta. E a excentricidade da viagem é algo para ficar na memória.

Ficamos no Hotel Sol Cayo Largo, com pacote all-inclusive mais uma vez. Hotel bom, embora não fosse luxo (quer dizer, pra gente era, mas, oficialmente, não é). E lá, fomos presenteados com novo jantar romântico, à beira mar (no entanto, mais simples que o primeiro, em Varadero), e com uma garrafa de Havana Club, o rum mais tradicional da ilha. Diante do hotel, uma praia sem muito apelo, o que nos fez passar a primeira tarde nas piscinas do próprio hotel, relaxando. Para ir às melhores praias, é preciso pegar um micro-ônibus ou, se quiser um maior contato com a natureza, ir de trenzinho. Sim, uma espécie de trenzinho que passava regularmente nos hotéis e levava os hóspedes para as duas praias mais badaladas do lugar: Sirena e Paraíso. Esta última, na verdade, poderia dar o nome não apenas à praia, mas ao local.

Cayo Largo
A água de Cayo Largo (assim como também era de Varadero) é uma transparência ímpar. Estamos no Mar do Caribe e, de fato, tudo o que se disser sobre a beleza do local ainda é pouco. Por exemplo: passear pelas praias de Cayo Largo significa tropeçar, literalmente, em estrelas do mar. Ou ver seu rosto refletido nas águas cristalinas dos espelhos d’água. A areia, de uma textura que parece um tapete, não esquenta, o que permite longas caminhadas sem aquela sensação de estar pisando numa frigideira. Contudo, ela é tão branca de quase cegar. E não é exagero: na ocasião em que pegamos uma van para nos deslocar até a praia, presenciamos o inusitado fato de que ela tinha insulfilm na parte debaixo do vidro dianteiro – e não em cima, como estamos acostumados –, para evitar o reflexo da luz na areia. Por fim, tivemos também a oportunidade de ver um show de golfinhos.

Ainda havia a possibilidade, oferecida pelo hotel, de fazermos passeios guiados pelas belezas naturais de Cayo Largo. No entanto, decidimos explorar o local sozinhos – e, descobrimos, que este era o melhor jeito, já que os passeios (pagos) fariam exatamente aquilo que fizemos, mas, naturalmente, sem a liberdade que tivemos. Contudo, se fossemos em excursão, provavelmente nos teriam informado de que na praia de Sirena é permitido a prática de nudismo, o que desconfiamos lá, e a Angelica confirmou, em pesquisa na internet, quando voltamos.

Estrelas do mar em Cayo Largo.
Em nosso hotel, encontramos ainda um simpático casal de jovens médicos brasileiros que estavam descobrindo a ilha por conta própria – e que, como nós, também tinham ficado embasbacados com aquele lugar.

Depois de três dias num verdadeiro paraíso, nossa última parada seria na capital cubana, novamente num avião daqueles antigos. Agora, já devidamente experimentados nas belezas naturais da ilha, teríamos a oportunidade de descobrir “outra Cuba”.

Havana é, em certo sentido, a cara de Cuba. É lá que você encontra boa parte dos símbolos que tornaram o país mundialmente conhecido: os carros, os prédios, às menções à Revolução etc. Ficamos hospedados no hotel Meliá Cohiba, que poucas semanas antes tinha hospedado a presidenta Dilma Rousseff, em sua primeira viagem à ilha (não se impressione: os preços dos hotéis cubanos permitem esse tipo de luxo). Mais uma vez, fomos recebidos com mimos: chocolates e champagne, além de um café da manhã especial ( que também tinha ocorrido em Varadero).

Famosa imagem de Che Guevara na Praça da Revolução,
em Havana.
A beleza natural de Havana fica por conta do Malécon, uma imensa avenida que contorna a cidade e faz divisa com o mar. Passear por ali é experimentar uma sensação de leveza única. Mas, falar de Havana é falar, principalmente, de seus bares e restaurantes, e da Revolução, que dá o tom, direta ou indiretamente, por toda a parte.

Como, dessa vez, não tínhamos mais o pacote all-inclusive, tivemos que ir atrás de restaurantes e bares para comer. Uma diversão, porque, em qualquer lugar que você vá tem música ao vivo e aquele clima de festa típico. Os preços, também, são convidativos: um excepcional filé de porco por 5 CUC (aproximadamente US$ 5), ou lagosta por 10 CUC (em torno de US$10).

O ponto turístico mais badalado de Havana é o bairro Habana Vieja, onde se concentram as principais atrações de lazer gastronomia etc., como La Bodeguita del Medio, bar famoso por seu mojito (o coquetel mais tradicional do país), e outrora frequentado pelo escritor Ernest Hemingway.

Coco-taxi, uma maneira divertida de passear
pelas ruas da capital.
Mas, não dá para andar pelas ruas de Havana, e mesmo conversar com muitos de seus moradores, sem se lembrar da história revolucionária daquele país. E, para quem gosta do tema, nada melhor do que uma parada no Museu da Revolução, que tem um enorme acervo sobre o tema, contando inclusive com roupas, armas utilizadas, correspondências entre Fidel e seus comandados (inclusive Che Guevara) etc. Além disso, basta uma olhada ao redor para perceber que tudo ali lembra a luta política travada desde 1959. Aliás, numa parada de ônibus tivemos a oportunidade de conversar com um ex-combatente da guerra de Angola, que, inclusive, achou que a Angelica era cubana!

Bom, mas não houve nada de ruim nessa viagem, então? Com certeza. O principal, a nosso ver, foi o seguinte: em plena era digital, a internet em Cuba é cara e discada. Cada hotel, por exemplo, disponibiliza poucos computadores, que, na verdade, servem para aquele basicão: mandar e-mail, dar uma olhada em algum site de notícias e só. Nada de ficar postando fotos no Face, por exemplo. A menos que queira gastar uma grana e tenha uma enorme paciência. Por conta do embargo americano (olha como não dá para deixar de pensar em política por lá), Cuba não tem acesso à tecnologia de ponta, o que dificulta e muito a vida dos moradores da ilha a esse respeito, além da dos turistas. Além disso, a vida noturna, seja de Varadero, seja de Cayo Largo, deixa um pouco a desejar. Poucos bares ou “baladas”, no sentido que conhecemos. Mas, nada que não seja compensado (e de longe) pela vida diurna.

Enfim, ir para Cuba é mais do que recomendado: a simpatia, o carinho deles pelos brasileiros, a educação (em todos os sentidos) são traços a se enaltecer. Além, claro, das paisagens que valem cada centavo investido, e da história inigualável que se concentra naquela ilha.

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