quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Brasil - Olimpíadas e a nossa realidade esportiva


 Outra edição dos Jogos Olímpicos se aproxima do fim, e não dá para negar a sensação de que o desempenho brasileiro, em número de medalhas, ficou aquém do desejado e de nosso potencial - impressão que uma ou outra medalha a mais que não veio em nada mudaria. A meu ver, dentro da realidade dos atletas de ponta, o principal responsável por esse cenário, para além das contingências de cada competição, é o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, cuja atuação à frente da entidade é calamitosa. Aliás, não só a dele, mas o da maioria dos presidentes de confederações esportivas. O que a boxeadora Adriana Araújo, medalha de bronze em Londres, disse a respeito do presidente da Confederação Brasileira de Boxe (leia aqui), certamente pode ser estendido e aplicado ao de outras tantas modalidades. Presidentes preocupados apenas com o dinheiro que recebem de patrocínios e governos e pouco se lixando para os atletas e o desenvolvimento esportivo do país.

“Ah, mas o governo também tem culpa!”, poderá retrucar alguém. Sem dúvida. No entanto, me parece que a “culpa” maior do governo (ou dos governos, uma vez que o esporte não é assunto apenas da alçada federal) não se refere exatamente aos atletas olímpicos em sua maioria. Estes, em bom número, são auxiliados, especialmente pelo governo federal, seja pelo bolsa-atleta – criado por Lula em 2004, cuja verba, aliás, contribuiu para nossos dois ouros individuais, de Sarah Menezes e Arthur Zanetti; seja através do patrocínio de estatais – basta ver, sobretudo em outras competições, nas quais os atletas utilizam uniformes próprios, as logomarcas da Caixa, do Banco do Brasil, dos Correios, da Petrobras etc., e a quase ausência de logomarcas de empresas privadas para se ter ideia da relação entre capital público e privado no montante do patrocínio total dos atletas (este último muitíssimo menor do que o primeiro, salvo em uma ou outra modalidade).

A principal falha do governo, em minha opinião, é não desenvolver uma política pública efetiva de promoção do esporte nas escolas. É desnecessário lembrar da defasagem estrutural de grande parte dos prédios escolares no Brasil, o que impede muitos alunos de terem aulas de educação física, consequentemente, um primeiro contato com a prática de outros esportes para além do futebol. Contudo, mesmo naquelas escolas que contam com uma quadra minimamente decente, a própria concepção da aula de educação física – muitas vezes vista como mera recreação por parte dos alunos e “tempo perdido” por parte dos profissionais da educação – não favorece a disseminação do esporte, do cuidado com a saúde, e de alguns valores que este pode proporcionar: o espírito de solidariedade, a competição sadia, o “aprender a perder”, a superação, a determinação, dentre outros.

Assumir o esporte, desde a base, isto é, desde as escolas, como meio de inclusão social, promoção de cidadania e disseminação de valores positivos para o convívio social: esta, a meu ver, deveria ser a tarefa primordial do governo, num trabalho integrado entre MEC, Ministério dos Esportes, governos estaduais e municipais – trabalho este que se existe, ainda deixa muito a desejar. Melhorar a estrutura das escolas, rever o conceito da educação física no âmbito escolar, auxiliar na construção de centros poliesportivos pelo interior do país, sem claro, descuidar da outra ponta, dos atletas de nível nacional e internacional de competição. Mais do que verba, pura e simplesmente, a vontade política de todos os atores é fundamental. Apenas assim, o esporte poderá contribuir para uma formação cidadã mais completa e que tanta falta nos faz. A existência de campeões olímpicos, atletas de ponta etc. será uma consequência natural da concretização deste movimento.

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