Em
documento publicado no último mês, o Diretório Nacional do PT publicava um
texto que, a meu ver, resume bem a problemática que estava colocada nesta
Conferência Rio + 20. Transcrevo dois trechos a seguir:
“Do ponto de vista ambiental, a crise
internacional só está demonstrando com mais clareza o que já sabíamos e
dizíamos há muito tempo: um modelo de desenvolvimento apoiado na ideia de que o
mercado é capaz de organizar a vida social, que tem o lucro como principio
básico e fundamental, além de ser um modelo excludente, que acentua a
desigualdade social, é certamente um modelo em que é impossível pensar numa
sustentabilidade ambiental. Esta é uma das ideias centrais que vamos defender,
como Partido, na Rio+20: sustentabilidade ambiental não rima com capitalismo,
especialmente com capitalismo neoliberal”.
Nesse
sentido, quatro desafios eram elencados:
“O
primeiro tem um sentido mais estratégico, e refere-se à defesa de um modelo
alternativo de desenvolvimento; o segundo tem um sentido teórico-conceitual,
considerando que o termo “desenvolvimento sustentável” se universalizou, mas há
uma disputa em torno de seus significados e conteúdos; o terceiro é mais
institucional, e refere-se aos compromissos e metas que os governos e
organismos internacionais devem assumir; e por fim o quarto e talvez o
principal: o desafio político, ou seja, o da construção da força necessária
para implementar e aprofundar esse modelo alternativo que preconizamos”.
Deste
ponto de vista, e como era de se esperar, o rascunho do documento final da
Conferência Rio + 20, que a partir de hoje será submetido aos chefes de Estado
e de governo que vierem ao Brasil, ficará aquém do desejado. É fato que, como
disse a presidenta Dilma nesta terça-feira, “há a necessidade de se fazer um
balanço entre os países”, que o rascunho aprovado sob a capitania do Brasil “é
o documento possível entre diferentes países e diferentes visões do processo
relativo à questão ambiental”. Mas, não dá para negar, ele não responderá de
maneira satisfatória aos desafios que estão postos para a humanidade nestas
primeiras décadas do século XXI.
Embora
possa haver alguma modificação na letra final, as notícias dão conta de que foram
excluídos do texto acordado pelos representantes dos países participantes, por
exemplo, a criação de um fundo de fomento à sustentabilidade, sugerido pelo
G-77 (grupo de países em desenvolvimento, como Brasil e China), claramente por
oposição dos países ricos – curiosamente, os que mais poluem –, e propostas
mais específicas de metas de sustentabilidade – novamente, por oposição central
daqueles mesmos países. No plano social, o parágrafo que mencionava o direito
das mulheres sobre seu processo reprodutivo foi retirado por pressão do
Vaticano. Mas, para nosso azar, o eixo falacioso da “economia verde” - que, no fundo, apenas pretende manter o modelo predatório capitalista tal como ele é hoje - prosseguiu.
Mas,
então, a Conferência foi um completo fracasso (como também se disse há 20 anos
da Eco-92)? Não acho. Primeiro, porque, na pior das hipóteses, um encontro dessa
envergadura, que mobiliza desde militantes e ativistas das mais diversas áreas,
até os comandantes de grande parte das nações mundiais, é sempre proveitoso.
Pelo que pude acompanhar à distância, houve bons debates, boas propostas no
âmbito da chamada “Cúpula dos Povos”, que reúne a chamada “sociedade civil”,
além de representantes de movimentos sociais, políticos etc. Uma interessante troca
de experiências, individuais e coletivas, um acúmulo de forças que renova a esperança de que “o mundo
que queremos”, como propõe o lema da Conferência, é um mundo bem diferente do
que aquele que está aí. Nesse sentido, vale destacar por exemplo que, apesar dos pesares, o
documento final reafirmará positivamente a indissociável díade entre
desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental – o que me parece um ponto de partida essencial em qualquer discussão séria sobre nosso futuro.
O
que emperra esse tipo de negociação, de fato, é contemplar os interesses de
alguns países, sobretudo aqueles que são os maiores causadores do drama
sócio-ambiental que vivemos, mas cujo poder, infelizmente, nos impede de
simplesmente ignorá-los. Isso ficou claro, desde o início, com o esvaziamento
provocado pela recusa de líderes como Barack Obama e Angela Merkel em participar da
Conferência. Convenhamos, uma reunião de interesse global sem que os EUA e a Alemanha assumam sua enorme responsabilidade diante dos problemas mundiais perde muito
de seu poder de fogo. Com esse gesto de ambos, ficou claro o nível do
enfrentamento que se daria nessa Conferência.
Enfim,
agora é preciso examinar a versão final do documento, mas principalmente, acompanhar
de perto os desenlaces desses dias de intensa discussão sobre nossos principais
problemas. E, a partir daí, definir os próximos passos em direção a um novo princípio civilizatório, diferente do paradigma capitalista liberal que nos conduziu a essa situação desastrosa.
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