Ainda é incerto o que se seguirá após a vitória do candidato socialista François Hollande nas eleições presidenciais
francesas, exceto que ela representa um não do povo francês às políticas regressivas implementadas por Nikolas Sarkozy. Como bem observou Ignácio Ramonet há poucos dias, em artigo que
recomendo a leitura (veja aqui) o triunfo de Hollande abre basicamente duas
perspectivas: a primeira é a de que, na esteira do que ocorreu com outros
governos sociais-democratas europeus na última década, a pressão dos
“mercados”, isto é, do capital financeiro, force um recuo do socialista em seu
objetivo de confrontar a política de austeridade da União Europeia, capitaneada
pela chanceler alemã Ângela Merkel, cujos resultados sociais são
invariavelmente desastrosos. A outra alternativa é que Hollande, reconhecendo o
inegável peso da França na definição dos rumos da União Europeia, resolva enfrentar
soberanamente as políticas recessivas levadas a cabo pelo bloco europeu,
cumprindo a promessa de mudança positiva que deu o tom de sua campanha.
Mais do que um assunto interno,
ou continental, os rumos da política francesa têm um impacto em todo o planeta,
não apenas na área econômica, mas em particular para o conjunto das forças progressistas.
Se Hollande não decepcionar seu eleitorado de esquerda (como aconteceu com o
primeiro socialista eleito presidente francês, François Mitterand), revertendo com
ousadia as políticas perversas impostas pelo ex-presidente Sarkozy, não apenas
ganhará a França – em especial suas classe trabalhadoras e os setores mais
oprimidos e marginalizados pelo capital financeiro –, mas toda a esquerda europeia
e mundial, que contará com um ponto de apoio importante para aprofundar a
disputa política contra o domínio do grande capital, pela igualdade, pela
liberdade e pela democracia.
Nesse sentido, em seus primeiros
discursos depois de eleito, além do protocolar “vou ser o presidente de todos
os franceses”, chamaram a atenção (minha, pelo menos) duas declarações: a
primeira, ainda em Tulle, seu domicílio eleitoral, na qual Hollande afirmou querer
“ser lembrado por dois compromissos: a juventude e a igualdade”. E, depois, já
em Paris, sua conclamação para que outros países europeus sigam o exemplo da
França em nome da “mudança”. Vejamos, com certa expectativa, para onde se
encaminhará o novo governo socialista. Pode estar nas mãos de Hollande, seja o recrudescimento de uma direita ainda mais extremada (que tem se fortalecido na Europa nos últimos anos), em caso de fracasso, seja, em caso de sucesso, a
abertura de um novo período de fortalecimento da esquerda europeia – o que é
bom para todos aqueles que compartilham do ideal de um mundo mais justo e
solidário.
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