quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Capitalismo em xeque?

Mesmo antes de seu término, pode-se afirmar, desde já, que o ano de 2011 foi prodigioso em manifestações populares. Desde as revoltas contra ditaduras na Tunísia, no Iêmen e no Egito, passando pelas manifestações contra os pacotes de ajuste econômico na Grécia e na Espanha; das revoltas da juventude inglesa, às reivindicações de reformas na educação pública chilena e, mais recentemente, o Occupy Wall Street, com seu lema certeiro: “somos os 99%”. Despertar das massas ou levantes desconexos e esporádicos? Difícil afirmar com precisão. No entanto, há de se ressaltar que o pano de fundo de todas essas manifestações é a revolta contra situações em que o bem-estar coletivo é subsumido a interesses de minorias dominantes política e economicamente. É a hegemonia imperialista norte-americana e de alguns de seus principais braços (FMI, Wall Street etc.) que foi posta em xeque. Não é á toa, aliás, que esse movimento se dê justamente em meio a uma das mais graves crises do sistema financeiro internacional – coração do capitalismo contemporâneo – a partir de seus dois principais pilares, os EUA e a Europa (onde, aliás, o desejo do governo grego de convocar um referendo para a aprovação ou não da população quanto às medidas de ajuste, direito legítimo da soberania do país, é acusado de ameaçar a “estabilidade” da região, o que significa tão somente ameaçar os interesses do capitalismo europeu).

O desenrolar desses fenômenos em conjunto ainda parece incerto. Estaria o capitalismo, finalmente, agonizando, e estaríamos vivendo um período de transição, como crê Immanuel Wallerstein (leia aqui), por exemplo? Eu ainda não cravaria. Mesmo porque tenho minhas dúvidas de que apenas as contradições internas do sistema o conduzirão ao colapso, como defende Wallerstein. O capitalismo mostrou-se bastante flexível para absorver crises e superar algumas de suas contradições, e não me surpreenderia se esse fenômeno se repetisse mais uma vez. Mas, de qualquer forma, não dá para negar que 2011 foi um ano de muitos abalos em pontos de apoio importantes do sistema capitalista, sobretudo na hegemonia imperialista dos EUA. Tomara que seja, de fato, apenas o (re)início de movimentos mais agudos que possam alargar nosso horizonte político, tão estreitado durante a hegemonia do capitalismo neoliberal, e ajudar a minar definitivamente a podre estrutura social à qual estamos submetidos. Aguardemos o desenrolar dos fatos.

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