quarta-feira, 21 de julho de 2010

A obscena "Guerra ao terror"

Essa semana, o Congresso dos EUA divulgou a notícia de que os gastos com a chamada “Guerra ao terror”, deflagrada após os atentados de 11 de setembro de 2001, ultrapassaram US$ 1 trilhão. Mais precisamente, o governo norte-americano despendeu US$ 1,15 trilhão numa guerra cujo resultado mais visível foi a da expansão terrorista no mundo – ou seja, o inverso de sua justificativa. É a maior quantia gasta com o setor bélico desde a II Guerra. A previsão é que esses gastos, até 2017, cheguem a US$ 2,4 trilhões.

Números obscenos como esses (para quaisquer padrões de comparação que se possa adotar) nos fazem refletir um pouco. Ano passado, o governo Obama travou outra verdadeira guerra interna para provar uma reforma no plano de saúde do país, cujo mote era estender a cobertura dos planos de saúde para os quase 47 milhões de americanos que não têm acesso a esse serviço (nos EUA, não há um serviço universalizado de saúde, como o SUS – só vai ao médico quem tem um plano, quem pode pagar). Concomitantemente, a ideia era racionalizar recursos e investir no desenvolvimento científico, para diminuir os custos. A proposta, que chegou a ser chamada de “socialista” pelos setores conservadores do país, e acusada de aumentar o déficit público, acabou aprovada, com emendas em relação à proposta original.

Você poderia se perguntar: então esse montante de recursos gastos com uma guerra comprovadamente ineficaz, (se é que há guerra eficaz) não poderiam ser utilizados, por exemplo, na saúde, na criação de empregos, ou na melhoria das condições de vida da população norte-americana, ao invés de serem despendidos na matança de inocentes em outros países? É que a estratégia de "guerra permanente" tem um motivo, digamos, muito mais importante para a lógica do sistema capitalista. Os economistas americanos Paul Sweezy e Paul Baran, em 1966, em seu livro Capitalismo monopolista (no Brasil foi editado pela Zahar Editores), diziam que a conservação da política imperialista dos EUA dependiam de cinco eixos: defesa da hegemonia política global exercida pelos EUA; a criação de uma plataforma de segurança internacional como base objetiva à expansão e monopolização das oportunidades econômicas no exterior; o fomento de núcleos de Pesquisa e Desenvolvimento a serviço das grandes corporações (que, no limite, são quem controla a economia global monopolista); a manutenção de uma população complacente, obediente à influência nacionalista e manipulada pelo medo com a ideologia da “guerra infinita”; e a disseminação, por todo o território americano, de uma grande capacidade produtiva, com o intuito de prevenir a estagnação econômica pela promoção de investimentos de baixo risco, mas com retornos financeiros elevados (indústria armamentista) *.

Ora, não é de se estranhar que, após o fim da Guerra Fria, os americanos precisassem de outro “pretexto” para investir pesado na indústria bélica – inclusive, inventando falsos motivos para guerras, como a assumida mentira contada sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, que motivou a invasão de 2003. A ideia de que a Guerra ao terror visa um mundo mais seguro é, portanto, uma farsa. Trata-se de dar sobrevida ao sistema, atender os interesses da grande indústria, e manter a hegemonia política e econômica dos EUA. A pergunta que resta é: até quando?

* Para uma análise mais aprofundada do tema, recomendo o excelente artigo “O triângulo imperial norte-americano e os gastos militares”, de John Bellamy Foster, Hannah Holleman e Robert W. M, publicado originalmente na revista Montlhy Review, nº 59, outubro de 2008. Link para o artigo traduzido (parcialmente), aqui

Fonte da notícia (O Globo). Link aqui

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